domingo, 23 de junho de 2013

Bar do Grêmio atrai tricolores no bairro Boa Viagem, em Recife Lidio Turmina é o proprietário do local, bem conhecido na capital pernambucana

Lidio Turmina, 62 anos de idade, 43 de Recife, tem duas paixões. Uma começou em Nova Araçá. A outra cresceu em Pernambuco.
— É o Grêmio e a família, meu casal de filhos e os três netos. Acordo e já penso no Grêmio e nos meus filhos e agora nos meus netos. Antes da gurizada, eu acho que vivia só para o time. Preciso dividir, né? — contou Lídio.
No bairro Boa Viagem, três quadras distantes do mar, vizinho de uma delegacia de polícia, ele não é o Lídio, nem o gaúcho. É o Gringo ou ainda o dono do Bar do Grêmio, 27 anos tentando atrair tricolores locais, visitantes ou torcedores de qualquer outro time. O ponto é famoso na cidade.
— Vendo cerveja para colorado, mas não gosto muito — disse, com bom humor.
O lugar é simples. Exibe um distintivo grande do Grêmio na fachada e mais um gigante na parede dos fundos. Usa mesas de plástico. As cadeiras foram vermelhas durante um tempo. Ele reclamou. Ganhou novas em cor laranja.
A cerveja mais cara custa R$ 5, os fregueses bebem generosas doses da pinga local, uma delas chama-se Caranguejo, e uma tevê fica ligada desde as 9h da manhã até o ultimo cliente. Pôsteres de diferentes times do Grêmio de muitas épocas decoram as paredes.
— Em dias de jogos do Grêmio eu recebo 40 pessoas em média. Vendo oito grades de cerveja. Sabe o Vilson Cavalo, o ex-jogador? Ele bebe aqui de vez em quando.
Pergunto se ele recebe visitas de dirigentes.
— Nunca. É o único bar do Grêmio que eu conheço no Nordeste. O time joga todo o ano em Recife e eles nunca põem os pés aqui. Não entendo.
Atiçado pelo gigantismo da Arena, Gringo pegou o carro, que tem o desenho da bandeira do Grêmio e do Rio Grande do Sul na parte traseira, embarcou o neto Gustavo, 15 anos ("é mais gremista do que eu", diz), e rodou três dias pela BR-101 até entrar em Porto Alegre:
— Entrei na cidade, olhei do lado esquerdo e vi aquele baita estádio. Ficamos emocionados. O guri parecia que ia ter um troço.
Saudade do seu Estado ele tem todo o dia. Não vai voltar. Criou raízes, casou, os filhos nasceram na cidade. Chegou à capital pernambucana com um grupo que lançou a churrascaria Laçador nos anos 1970. Pilchado, fazia de tudo, assava, atendia, acomodava as pessoas, servia mesas.
— As pessoas paravam para tirar fotografias. Um dia os donos resolveram tirar as botas e as bombachas da gente. Pronto, o movimento diminuiu.
Na churrascaria, ganhou um freguês especial, o sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912 _ 1989). Fez um grande amigo. Conheceu algumas cidades do interior ao lado do artista. Foi até seu motorista em  viagens. Tentou plantar uma semente gremista no enorme coração de Gonzagão. Não foi feliz.
— Eu falava do meu time e de futebol quando saíamos de carro pelo Serão. Ele dizia, com aquela voz grossa, forte: "Gringo, bota uma música no rádio". Ele era uma pessoa muito musical. Adorava uma picanha ao ponto. Tenho saudade do Luiz.
Gringo perdeu o sotaque gaúcho. Fala como local, usa umas gírias locais. O que o diferencia é a camisa do Grêmio, que nunca tira.
— Tenho mais de 20. Não lembro de uma dia que não tenha usado uma camisa gremista nos últimos 27 anos, que é a idade do meu bar.
Do time do Grêmio atual, ele só tem uma queixa.
— O treinador (Vanderlei Luxemburgo) não me entra. A estrela dele no Sul é pouca. Tá na hora de sair.

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