Há algum tempo que o
clube do povo ostenta elencos bem mais caros que os do Grêmio, com
jogadores de renome. Um status advindo de uma era que foi muito generosa
aos que não tinham lá tanta tradição, mas que encontraram a glória das
taças. Enquanto, nós, pertencentes ao time acostumado a desbravar o
mundo afora muito antes, amarguramos 14 anos que não condizem com a
grandiosidade deste clube. Amarguramos, entre outras várias coisas,
derrotas humilhantes em Gre-Nais, ao ponto de sermos considerados, por
muitas vezes, a zebra do clássico. Tem sido um tempo muito desleal. Ora,
não é possível que este tempo nunca acabe! “- Pelo amor de Deus, que a
bola puna tamanha arrogância” é o que pedíamos aos céus.
Tal infâmia não
poderia durar por muito tempo, uma hora as coisas deveriam se alinhar.
E, no atual momento, estamos deparados com uma situação muito inusitada:
iniciamos um ano com um elenco jurado de rebaixamento, com uma folha
salarial baixa, quase nenhum investimento em contratações e
absolutamente nenhum jogador de renome. Enquanto aquele que veste
vermelho vivia exatamente o contrário: um elenco de dar inveja a muita
torcida, com um técnico de estilo europeu, estando prestes a conquistar o
terceiro título da América para, finalmente, após cento e seis anos de
uma desesperada luta travada contra a inferioridade, superar o rival.
Estava tudo acabado para nós, tricolores. Os céus pareciam não nos ouvir
enquanto a bola cada vez mais se dava bem com a #poka humildade.
Mas a noite sempre
fica mais escura antes de amanhecer. Toda magia alvirrubra que
contaminava as ruas e as mentes de memória curta acabou, assim, num
estalar de dedos, como que de uma década para outra. Estavam a um passo
do céu e a um passo do inferno, mas a bola puniu os excessos de um clube
cegado pela prepotência, tanto dentro de campo, quanto fora dele,
colocando os dois rivais em pé de igualdade.
Então veio o dilúvio: a
inesperada demissão do técnico Aguirre, a saída de alguns jogadores do
elenco e o atraso dos salários anunciado por um jogador deles à imprensa
aconteceram às vésperas do Gre-Nal. Propositalmente, por quem cansou e
não pôde mais carregar o peso da responsabilidade em vencer esse
clássico. A única chance de talvez saírem vencedores seria entrar em
campo, domingo, justamente como a zebra da partida.
Sim, foi caso pensado a
demissão do treinador, obviamente. Sustentá-lo até o Gre-Nal
significaria obrigação de vencer o Grêmio e eles sabem que quando os
dois estão em pé de igualdade, a camisa pesa mais para um dos lados.
Eles nos devolveram o favoritismo, assim, de graça. Nos despejaram essa
responsabilidade. Preferiram se deitaram no chão para tentarem se
levantar com uma vitória sorrateira. É mais confortável que entrem como
zebras, eles sabem lidar melhor com isso, afinal, ninguém esquece o
passado. Nem eles. Nem que eles tentem.
Raciocinando friamente
o que se passa dentro das quatro linhas, não somos favoritos a nada.
Temos um time que não está conseguindo render o que pode, com inúmeros
problemas, tanto no ataque, quanto na defesa. Com muitos ajustes a serem
feitos pelo técnico e são coisas que não se corrigem em uma semana.
Temos chance de vencê-los, com certeza. Mas a chance de perder é a
mesma, pois nosso time não está nem de longe uma maravilha. O que voltou
foi o peso da camisa, a inversão da gangorra. Foi nos dada a
oportunidade de corrigir o eixo da rivalidade e de nos colocarmos no
nosso devido lugar. A bola está ali para o Grêmio chutar. Nós temos a
chance de voltarmos a ser os favoritos, mas isso só vai acontecer se
vencermos.
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