Seja por sua política financeira, exacerbada na aposta em um elenco
recheado de garotos, capitaneados pelo emergente Roger Machado, ou pela
profissionalização de sua gestão, com o uso da tecnologia, o Grêmio
adotou nova maneira de gerir seu dia a dia. Com resultados obtidos
dentro e fora do campo, o sucesso do clube gaúcho começa a se tornar
exemplo a ser seguido.
Ao ser eleito presidente do Grêmio, em
outubro do ano passado, Romildo Bolzan Júnior tinha claro uma coisa na
cabeça: não poderia esbanjar recursos financeiros e precisaria enxugar o
que vinha sendo feito no clube, ainda que ele fizesse parte da gestão Fábio
Koff. A intenção era de apertar o cinto e evitar gastos excessivos em
2015. Compôs um plano de gestão para que em quatro anos, o Tricolor
pudesse ter um reequilíbrio financeiro sem vender nenhum dos jovens
talentos.
Recentemente, o ex-CEO do São Paulo, Alexandre Bourgeois,
citou o Tricolor como exemplo a ser seguido durante o Seleção SporTV.
O sucesso gremista no Brasileirão, ao brigar pelo título com
Corinthians e Atlético-MG e ser uma equipe consolidada no G-4 após
iniciar a competição entre apontados como coadjuvantes, pesou na
avaliação do dirigente do clube paulista.
- Tem um clube no
Brasil que está rompendo com isso e não é só o Flamengo, que está no
caminho certo. Ninguém fala, não está fazendo propaganda sobre isso. Até
peço desculpas ao meu amigo que é o CEO lá. Mas é o Grêmio. Fez
exatamente isso. Tem hoje um conselho de administração onde fica o
presidente e as pessoas relacionadas à política do clube. Embaixo desse
conselho tem o CEO, que é o Gustavo Zanchi. E abaixo dele tem todas as
áreas do clube, seja futebol, marketing, que são executadas por ele. É
um modelo viável que eles estão fazendo - afirmou Bourgeois.
Abaixo,
o GloboEsporte.com lista cinco pontos que colocam o clube gaúcho como
um dos exemplos a ser seguido por outros clubes e que rendem elogios
Brasil afora.
Desde o final de agosto, o Grêmio conta com uma importante arma
"secreta" em seus bastidores para seguir com a boa campanha em 2015. O
clube iniciou a colocar em prática, em meio a testes, o software
desenvolvido pela empresa alemã SAP (Sistemas, Aplicativos e Produtos
para Processamento de Dados). Fruto de um investimento de R$ 3, 5
milhões, a ferramenta, SAP Hana (High-Performance Analytic Appliance),
será utilizada na análise de desempenho do futebol, assim como na
administração cotidiana do clube.
>>> Confira mais detalhes sobre o software alemão
O
software possibilita a análise em tempo real e propicia 1,6 mil
segmentos de uma partida quatro minutos após o apito final, além de
fornecer dados e métricas de parâmetros sobre atletas e clubes que
disputam o Brasileirão e a Copa do Brasil. Tudo para em seguida ser
levado e analisado pelos profissionais do Centro de Dados Digital (CDD) e
depois enviado até para cada atleta, individualmente. Algo que a
seleção campeã da Copa de 2014, a Alemanha, já faz desde antes de erguer
o Mundial no Maracanã. A iniciativa gremista é inédita na América
Latina.
A inovação gremista na gestão não se limita ao uso do
software alemão. No começo do ano, o Tricolor anunciou o nome de Gustavo
Zanchi como CEO (sigla em inglês para Chief Executive Officer) para
trabalhar na administração do clube, logo abaixo do presidente Romildo
Bolzan - foi escolhido a partir de uma consultoria contratada, mesmo que
não tivesse experiência no futebol. Com mais de 26 anos de experiência
em empresas, o executivo tem atuação ativa no dia a dia gremista, mesmo
que evite figurar nos holofotes, durante seus primeiros oito meses no
cargo. Em paralelo ao mandatário, participa das negociações para a
compra da Arena junto aos três bancos responsáveis por financiar a obra e
a OAS. Além do presidente, o Grêmio tem um Conselho de Administração,
com seis vice-presidentes.
Tricolor diminuiu folha em R$ 3,5 milhões (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
O
discurso do presidente Romildo Bolzan ao início do ano tornou-se até
repetitivo. Em meio à política de contenção de despesas, o clube não
faria investimentos astronômicos para compor seu elenco em 2015.
Trataria de fazer apostas em atletas com pouco crédito em seus antigos
clubes e negociações que não onerassem os cofres do clube. A folha
salarial gremista, com salários, encargos e direitos de imagem, gira em
torno de R$ 5,6 milhões. Em relação a dezembro do ano passado, uma
redução de R$ 3,5 milhões. Tudo para se adiantar ao processo que vai
exigir que os clubes sigam regras bem claras pela lei do ProFut.
Dito
e feito. Sem grandes gastos, o Grêmio compôs seu grupo e briga na ponta
de cima do Brasileirão, mesmo que tenha sofrido com desfalques nas
últimas rodadas. Prova disso são os 10 reforços contratados pelo clube
na temporada atual. Do montante, cinco foram contratados por
empréstimos: Erazo, Galhardo, Maicon, Braian e Vitinho. Outros cinco
chegaram ao clube sem vínculos anteriores, ou seja, sem que houvesse
pagamento de multas rescisórias: Bruno Grassi, Marcelo Oliveira,
Douglas, William Schuster e Bobô.
Tanto poupou que agora terá
de fazer esforços financeiros caso deseje assegurar a manutenção do
elenco. Os principais casos são de Erazo e do capitão Maicon, ambos
emprestados. O Tricolor precisa desembolsar R$ 17 milhões para assegurar
a permanência da dupla, dos quais,
R$ 9 milhões para manter o volante, que pertence ao São Paulo, e R$ 8,7 para o defensor.
- O
Grêmio está sendo citado como case em uma nova realidade financeira. E o
Grêmio tem que continuar a respeitar isso. Queremos contar com todo o
grupo, se possível aprimorar, porque imaginamos que o Grêmio vai
conseguir alto nível de performance e mais competitividade, mas
respeitando o patamar financeiro - disse o diretor executivo Rui Costa,
na sexta-feira.
Luan é o principal destaque do Grêmio em 2015 (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)
Mais
do que reduzir gastos, o Grêmio tratou de valorizar as joias lapidadas
em suas categorias de base. Dos 37 jogadores do elenco atual, 18 são
formados dentro do clube - cerca de 48% do total do grupo. Além da
quantidade, os garotos se destacam pela qualidade. Aí, o exemplo maior é
Luan. O jovem de 22 anos é o artilheiro isolado do Grêmio no ano, com
15 gols em 44 jogos. Teve seu
contrato ampliado, mediante bonificação salarial, a exemplo do que o clube pretende executar ainda com outras duas joias: Pedro Rocha e Walace.
O sucesso dos pupilos dentro de campo desperta, por óbvio, o interesse do futebol europeu. O volante, por exemplo, já recebeu
duas propostas para deixar o Tricolor,
todas rechaçadas pelo presidente. Romildo Bolzan, inclusive, afirma a
cada entrevista que não pretende se desfazer das joias. O mandatário
prevê valorização ainda maior à medida que a equipe figure com
protagonismo nas competições. E defende que os atletas jovens criem um
vínculo com o clube antes de acabarem com cores europeias.
O
projeto é ampliar a participação dos jogadores da base em 2016. Com o
grupo de transição, formado neste ano, a ideia é aumentar a experiência
dos garotos para já utilizá-los com mais bagagem na próxima temporada.
Romildo Bolzan Júnior fez a escolha direta por Roger (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Quando
Felipão pediu para deixar o Tricolor, após início ruim no Brasileiro,
Romildo Bolzan Júnior entrou em contato e analisou mais fortemente três
nomes: Cristóvão Borges, Doriva e Roger. Com mais ou menos experiência,
todos na classe dos emergentes do futebol brasileiro. Após conversas
frustradas com os dois primeiros, o mandatário gremista acabou na
escolha do mais identificado com o Grêmio.
Uma conversa de 30
minutos, antes da apresentação oficial, deixou claro para o mandatário
que a escolha era a acertada. Roger era o treinador gremista. Além de
oxigenar o vestiário com ideias novas, o ex-lateral não representaria um
fardo financeiro para o clube. Também não seria de difícil
administração, o que cessaria com os pedidos constantes de contratações,
que ocorriam com Felipão e deixavam o elenco inseguro.
Romildo propõe mudanças no futebol do Brasil (Foto: Lucas Rizzatti/GloboEsporte.com)
O
Grêmio é uma parte ativa em tentativas de mudanças no futebol
brasileiro. Além de integrar, como um dos maiores entusiastas, da Liga
Sul-Minas-Rio, o presidente Romildo foi o
fomentador da criação do Comissão de Clubes,
dentro do Conselho Técnico. Além disso, já sugeriu mais de uma vez a
alteração da fórmula do Brasileirão, com o retorno de alguma fase de
mata-mata, a liberação da cerveja novamente nos estádios e a criação de
uma liga nacional.
No entanto, talvez a maior briga do
mandatário seja ao lado do rival Inter. Durante discurso no jantar de
112 anos do Grêmio, Romildo afirmou que briga ao lado de Vitorio
Piffero, sentado em sua mesa na festa, para que os dois clubes sejam
contemplados em novas faixas no pagamento dos direitos de transmissão.
-
Somos rivais apenas em campo. Fora dele, nossas brigas são iguais. A
primeira delas em melhorar a colocação de Grêmio e Inter no que tange os
direitos de transmissão - disse Bolzan em seu discurso.