
Fábio Koff, atual presidente do Grêmio com a Taça da Libertadores da América, em 1983
Foto:
Mauro Mattos / Agencia RBS
O destino conspirou a favor do Grêmio. Neste domingo, quando o time
pisar no gramado da Arena contra o Fluminense, dois personagens que
escreveram um dos capítulos mais dourados da história do clube há exatos
30 anos estarão a postos, a serviço do clube. Renato Portaluppi
regressou para ser o comandante dentro de campo. Fábio Koff, para
reconduzir o clube à trilha das conquistas. Um projeto parecido com o
que concluiu na fria noite de 28 de julho de 1983.
O dirigente usou fórmula que tenta repetir agora. Misturou jovens das
categorias de base com jogadores rodados em busca de reconhecimento.
Temperou isso com o talento de um craque "maluco", que com o número 7 às
costas atropelava adversários com sua força física e os iludia com a
técnica. O que poucos sabem é que Renato, um ano antes de cruzar para
Cesar marcar o gol do título, quase foi parar no Operário-MS. Essa
revelação e outros bastidores da conquista da primeira Libertadores
estão nesta entrevista concedida por Koff ao Diário Gaúcho.
O timeCom
o Mazaropi, inauguramos uma alteração no regulamento da Conmebol, que
até então não permitia a substituição de jogadores. Usamos a força
política e, praticamente sozinho, com a assessoria de um argentino,
Samuel Lazaro, que foi o empresário do Santos e do Pelé, conseguimos
alterar o regulamento para permitir a troca depois da primeira fase. O
Tita chegou antes, numa negociação por empréstimo pelo Baltazar com o
Flamengo. Tínhamos uma consciência de futebol, obedecida à risca, de
equipe forte e disciplinada, que representasse a história do clube.
O
Renato buscava a afirmação. Ficou todo o ano de 1982 sem ser
aproveitado. Seguiu no clube e se consagrou. Tínhamos o De León,
zagueiro técnico, Osvaldo, admirável do meio para a frente. Formamos um
grupo, como tentamos fazer agora, com experientes, mas com 14 da base
entre 28.
O Grêmio conseguiu em 1983 mudar a história do futebol
do Rio Grande do Sul. Brinco com os adversários que o Grêmio, aqui, foi
o primeiro campeão do mundo. O que é importante. O primeiro que chegou à
lua todo mundo sabe quem é. Ninguém se lembra do segundo.
Volto muitas vezes à lembrança de que a Libertadores era um sonho
quase impossível. O Grêmio tentara no ano anterior, em 1982 (foi vice) e
aprendera a lição. Fizemos uma equipe com prevalência da força física e
do conjunto. Foi processo de conscientização.
Organizamos a equipe
para isso. O sistema de disputa era mais difícil do que o atual. Nos
vimos praticamente alijados depois de jogo em La Plata, na Argentina.
Deixamos que o Estudiantes, com sete em campo, buscasse o empate em 3 a
3, após abrirmos vantagem de 3 a 1. O Grêmio passou a depender do
resultado do jogo América de Cali x Estudiantes. Estava com contratura
muscular e viajei praticamente medicado à Colômbia. Foi a maior emoção
que experimentei no futebol. O resultado que nos interessava era a
vitória ou empate do América, que já estava eliminado. Com menos de 20
minutos de jogo, eles tiveram um expulso.
Acabou 0 a 0. Experimentei
a melhor sensação após o jogo. O público que estava no estádio
voltou-se à tribuna para aplaudir ao presidente do Grêmio após um pedido
pelos alto-falantes. Depois do jogo, concedi entrevista dizendo que
ninguém mais segurava o Grêmio.
PressentimentoSenti
que seríamos campeões, por incrível que pareça, quando o Grêmio
conseguiu com certa facilidade ganhar do Flamengo no Maracanã. Havíamos
empatado aqui. Deu para perceber que tínhamos formado um time vencedor,
que crescia conforme as dificuldades. Aquele dia no Maracanã tive a
certeza que o Grêmio dificilmente perderia a Libertadores. No dia da
final, saí de casa vestido com blazer claro, calça escura e abrigo.
Minha mulher me perguntou porque não me vestia como os dirigentes
uruguaios, com terno e gravata. respondi que não ia usar gravata porque
ia me molhar e me emborrachar porque o Grêmio seria campeão. Eu tenho
dois casos de amores: minha mulher e o Grêmio
A inspiração
O Grêmio era tido e havido, e passou a ser, como um time de estilo
uruguaio. Jogamos uma partida em 1984 contra o Palmeiras. usávamos
camisa azul, calção preta e meia azul. Ouvia a torcida dizer que haviam
chegado os charruas. O Grêmio praticava estilo de futebol mais uruguaio
do que brasileiro. Entendo que o futebol deve prevalecer coletivo. Hoje
vemos que dois, três jogadores fazem a diferença. Na época, não faziam. O
que prevalecia era a estrutura completa. Vamos ver se conseguimos
repetir. Espero que Deus esteja guardando isso.
Fama mundial
A conquista representava dimensão maior ao clube. Vivíamos dentro dos
limites territoriais do Estado. Dois anos antes, fomos campeões do
Brasil. A partir da Libertadores e, depois, nos anos 90, passamos a ser
conhecidos no mundo. Fundamos um clube em Tóquio, o Frontale, que foi
campeão nacional com camisa igual a nossa, só mudava o escudo.
Renato
Tenho relação de amizade com o Renato, e ele tem muito respeito por
mim. Ele considera, com justiça, que fui importante na carreira dele. O
Renato estava emprestado em 1982. Quando cheguei à reunião do
departamento de futebol, me disseram que o haviam emprestado para o
Operário-MS. Estavam o 'Seu' Ênio Andrade (técnico), o vice de futebol,
Paulo Odone, e o diretor de futebol, Flávio Obino.
Me disseram
que queriam contratar um ponteiro- direito. Disse que eles queriam, mas
eu não queria e não contrataria. Eles alegaram que não havia
alternativas, e eu disse que tinha o Renato. Mandei o 'Seu' Verardi
(superintendente, Antônio Carlos) a Bento Gonçalves buscá-lo. Desfizeram
o negócio naquela tarde. Apostei no Renato, que ficou todo o 1982 no
banco. Só jogou a partida do ano, contra o Flamengo, na final do
Brasileirão.
Quando disse ao Ênio que ficaria com o Renato, ele respondeu: "O
Renato, aquele louco?" Perguntei o que ele (Renato) fazia, se rasgava
dinheiro. Ele disse que eu era maluco. Rebati dizendo que achava Renato
bom jogador e que não tinha dinheiro para contratar um reserva. Deu
certo. Na festa da conquista da Libertadores, o Renato me despejou um
balde de água no vestiário. Estava muito frio, um horror. Sem
explicação. Depois, ficou com o balde na cabeça.
Koff conta as peripéciais de Renato nos tempos do glorioso Grêmio dos anos 80. Ouça:
A invasãoPela
primeira vez alguém invadiu o Centenário. Eu invadi (risos). No jogo de
ida da final, o árbitro invertia faltas, exercendo pressão sobre nossos
jogadores. Houve momento em que o jogo foi interrompido para
atendimento ao Renato. Estava no banco e invadi de dedo em riste. O
Peñarol veio todo para cima. O árbitro dizia: "Tirem este louco, saquem
este louco". Todos os jogadores vieram comigo. Não havia reclamação
individual, todos pressionavam. Hoje, talvez, não funcione.
A final
Fui convocado para reunião em Lima, sede da Conmebol na época, para
alterar a ordem dos jogos. O Peñarol queria jogar a primeira em casa.
Achei a proposta vantajosa. Acreditei ter feito o melhor negócio do
mundo. O presidente do banco do Uruguai me disse que o Peñarol tinha
ganho todas as competições fora e me alertou que havíamos entrado numa
fria. Empatamos lá. Depois, numa noite fria, no Olímpico, o Grêmio foi
consagrado na América do Sul. Nosso clube se incluiu entre os maiores.
Volto hoje à presidência, 30 anos depois, com a expectativa de
conquistar outra. Não deu neste ano. Vamos buscar em 2014.
Os 12 passos até a taça
PRIMEIRA FASE
GRUPO 2
04/03 Porto Alegre Grêmio 1 x 1 Flamengo
22/03 Sta. Cruz de la Sierra (Bolívia) Blooming/Bol 0 x 2 Grêmio
25/03 La Paz (Bolívia) Bolívar/Bol 1 x 2 Grêmio26/04 Porto Alegre Grêmio 2 x 0 Blooming/Bol
31/05 Porto Alegre Grêmio 3 x 1 Bolívar/Bol
05/06 Rio de Janeiro Flamengo 1 x 3 Grêmio
SEMIFINAL21/06 Porto Alegre Grêmio 2 x 1 Estudiantes/Arg
24/06 Cali (Colômbia) América/Col 1 x 0 Grêmio
05/07 Porto Alegre Grêmio 2 x 1 América/Col
08/07 La Plata (Argentina) Estudiantes/Arg 3 x 3 Grêmio
Campeões cinquentões
Mazarópi - Goleiro60 anos (Além Paraíba-MG, 27/1/1963)
Encerrou
a carreira no Guarany de Bagé, em 1992. Ano passado, candidatou-se a
vereador em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Hoje, é secretário de Esportes de Sapucaia do Sul.
Paulo Roberto - Lateral-direito
50 anos (Viamão, 27/1/1963)
Atuou
por quase todos os grandes clubes brasileiros. Aposentou-se em 2000,
depois de passagem pelo São José-Poa, e hoje é empresário de futebol.
Baidek - Zagueiro
53 anos (Barão do Cotegipe, 16/4/1960)
Se
aposentou aos 35 anos após passagem por Grêmio, Belenenses/Por,
Madureira e Alagoas. Hoje, é empresário de futebol, com escritórios em
Porto Alegre e Lisboa e filial no Catar.
De León - Zagueiro
55 anos (Rivera/Uru, 27/2/1958)
Em
1984, trocou o Grêmio pelo Corinthians. Rodou por Santos, Nacional/Uru,
River Plate/Arg, Botafogo e Toshiba/Jap, e encerrou a carreira no
Nacional. Mora em Rivera e atua como empresário e representante. Em
2004, treinou o Grêmio.
Casemiro - Lateral-esquerdo55 anos (Serafina Corrêa, 7/1/1958)
Jogou
no Grêmio entre 1979 e 1988, quando foi para o Inter. Em 1990, encerrou
a carreira na Inter, de Limeira. Virou técnico, trabalhou no interior
gaúcho, na Venezuela, em Hong Kong, em Portugal e nos Emirados Árabes.
Está sem clube no momento.
China - Volante53 anos (Espumoso, 13/9/1959)
Se
aposentou em 1994, no Passo Fundo. Saiu do Grêmio e atuou no Vasco, no
Sport e em Portugal. Começou como técnico em 1995, na base do Grêmio.
Seu último clube foi o Atlético Tubarão-SC, em 2011. Trabalha como
assessor de esportes da Famurs, em Porto Alegre.
Osvaldo - Meia54 anos (Santa Bárbara d'Oeste-SP, 9/1/1959)
Trocou
o Grêmio, em 1987, pelo Santos. Ainda atuou por Vasco, Coritiba,
Comercial e Ponte Preta. Parou em 1992. É dono de mecânica e loja de
autopeças em Santa Bárbara.
Tita - Meia
55 anos (Rio, 1/4/1958)
Jogou
por Flamengo, Inter, Vasco, Leverkusen/Ale e nos mexicanos León e
Puebla. Se aposentou em 1997. Começou como técnico em 2000, no Vasco.
Seu último clube foi o Necaxa/Mex, em 2012.
Renato - Atacante
50 anos (Guaporé, 9/9/1962)
Se
aposentou em 1999, no Bangu. Antes, rodou por Flamengo, Botafogo,
Cruzeiro, Atlético-MG, Fluminense, além da Roma/Ita. Retornou ao Grêmio
em 1991. Virou técnico em 2000, no Madureira. Comandou o Grêmio entre
2010 e 2011 e voltou neste ano.
Caio - Atacante
58 anos (Rio, 16/3/1955)
Em
1984, foi para o Moto Clube, do Maranhão. Parou de jogar e virou
técnico. Hoje, trabalha com escolinhas de futebol no Maranhão.
Tarciso - Atacante
61 anos (São Geraldo-MG, 15/9/1951)
Deixou
o Grêmio em 1986, após 13 anos no Olímpico, e foi para o Goiás. Jogou
também por Cerro Porteño/Par, Coritiba, Goiânia e encerrou a carreira no
São José-Poa, em 1990. Eleito vereador da Capital em 2009, se reelegeu
em 2012, pelo PSD.
Tonho - Meia
55 anos (Criciúma-SC, 28/8/1957)
Deixou
o futebol em 1991, no Avaí, e virou técnico no ano seguinte.
Atualmente, vive em Florianópolis e seu último clube foi o Santa
Cruz-RS, no Gauchão deste ano, que assumiu após se desligar do São Luiz,
de Ijuí, em meio ao campeonato. Atua mais nos mercados gaúcho e
catarinense.
Bonamigo - Volante
52 anos (Ijuí, 23/9/1960)
Em
1989, trocou o Grêmio pelo Inter. Jogou ainda por Botafogo e Rio
Branco-SP. Começou a carreira de técnico em 1998, no Madureira. Comandou
Coritiba, Atlético-MG, Botafogo, Palmeiras, Portuguesa e Bahia. Há
quatro anos, está no Al Sharjah Club, dos Emirados Árabes.
Cesar - Centroavante
57 anos (São João da Barra-RJ, 13/4/1956)
O
herói do título, autor do gol da vitória sobre o Peñarol, vive hoje na
cidade natal, São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro. Trabalha na
revelação de jogadores. Saiu do Grêmio e rodou por Palmeiras, São
Bento-SP e Pelotas. Encerrou a carreira em 1987.
Leandro José - Zagueiro
52 anos (Dois Irmãos, 11/3/1961)
Em
1985, trocou o Grêmio pelo Joinville. Jogou ainda por Atlético-PR,
Botafogo-SP, Santa Cruz-PE, Ituano-SP, 15 de Novembro, de Campo Bom, e
São José-Poa. Deixou o futebol aos 38 anos. Desde 1998, é proprietário
de uma empresa de ônibus em Dois Irmãos, no Vale do Sinos.
Newmar - Zagueiro
52 anos (Ourinhos-SP, 2/5/1961)
Vendido
ao Coritiba logo depois da conquista, ficou cinco anos e foi bi
paranaense 86 e 87. Rodou por Pinheiros, Vasco, Bahia, Blumenau, São
Luiz-RS e Grêmio Bagé. Trabalhou em escolinhas e esteve na China e na
Arábia Saudita. Secretário de Esportes em Ourinhos, há um ano.
Odair - Ponta-esquerda
52 anos (Aratiba-RS, 10/6/1961)
Revelado
e multicampeão pelo Grêmio, jogou no clube de 1977 até 1987, quando se
transferiu para a Inter, de Limeira. Depois, ainda jogou no Vitória-BA
antes de se aposentar. Tem escolinha de futebol em Erechim.
Giba - Lateral-esquerdo
50 anos (Porto Alegre, 11/11/1962)
Saiu
do Grêmio em 1987. Rodou por Juventude, Portugal e no São José-Poa.
Formou-se em educação física em 1985 na Ufrgs. É agropecuarista e
reativou o futebol do São Borja, do qual é o atual presidente.
Paulo Cezar Magalhães - Lateral-esquerdo50 anos (Santana do Livramento, 5/6/1963)
Saiu
do Grêmio em 1985. Rodou por Vasco, Inter, Vitória-BA, Remo, Goiânia,
São Paulo-RG, Novo Hamburgo e 15 de Campo Bom. No Vale do Sinos,
trabalhou também como treinador. Atualmente, é gerente de patrimônio do
Cerâmica, de Gravataí.
Beto - Goleiro
53 anos (Crissiumal, 20/9/1959)
Deixou o futebol e virou treinador de goleiros. Está no Tupi, de Crissiumal, sua cidade natal. É tio do ex-goleiro Danrlei.
Remi - Goleiro
52 anos (Sapucaia do Sul, 29/11/1954)
No
dia seguinte à conquista, foi para o Colorado, do Paraná. Voltou, atuou
alguns meses no Aimoré e parou aos 29 anos. Trabalhou com venda de
automóveis na Capital por 15 anos. Desde 1999, está na base do Grêmio.
Robson - Meia
55 anos (São Borja, 6/7/1958)
Ficou
no Grêmio até 1984. Rodou por Novo Hamburgo, Mogi Mirim, Cerro Porteño,
Olimpia, Santa Cruz-RS, Pelotas, Atlético Carazinho e São Paulo-RG.
Parou em 1996. Trabalhou como técnico e, hoje, tem fornecedora de
energético, ração e cigarro.
Lambari - Ponta-direita
56 anos (Erechim, 11/3/1957)
Jogou
por Ypiranga, Esportivo, Juventude e voltou ao Grêmio em 1985. Rodou
ainda por Atlético-PR, Inter, de Limeira, Pelotas, Criciúma, Sergipe,
Brasil-Pe, São Paulo-RG e Inter-SM, entre outros. Parou em 1995. Há 15
anos, está no Progresso, de Pelotas.
Silmar - Lateral-direito
(Porto Alegre, 10/12/1958)
Deixou
o Grêmio e foi para o Palmeiras ainda em 1983. Depois, jogou por
Náutico, Joinville, Operário-MS, Próspera-SC, Ferroviário-CE e Moto
Clube-MA. Morreu em acidente de carro em 1992.
Completava o grupo o quarto goleiro Gérson.