A história começa como todo boato bom que se preze: jogador está em
Porto Alegre, teria afirmado a amigos próximos o desejo de defender o
Grêmio e jogaria até de graça. Tudo isso por empréstimo até o final do
ano, porque, em janeiro, ele começaria nova vida no futebol pós-moderno
da Major League Soccer, dos Estados Unidos.
Fato é que o New York Red Bulls, time para o qual carimbaram o futuro
de Ronaldinho, admitiu na manhã de hoje, em tons ríspidos e até irados,
que o jogador não foi procurado,
não será e que "o clube não é lugar para jogadores como ele". Ou seja, o
que de mais verdadeiro havia no boato – sua ida para os Estados Unidos –
não passou de, também, boato.
Ronaldinho não sabe seu futuro e mais uma vez quer promover-se
utilizando a imagem do Grêmio, expondo-nos mais uma vez a um possível
vexame, a uma piada sem fim que nos atormenta já há 13 anos.
Creio que ele teria uma grande aceitação pela torcida do Grêmio.
Volta e meia vejo gremistas, à parte das dores que Ronaldinho causou ao
clube, desejando sua volta de forma melancólica, silenciosa e profunda.
Ninguém grita e faz campanha para seu retorno, mas no fundo, a grande
maioria, creio que nutre um sentimento para tê-lo vestindo a camisa do
Grêmio mais uma vez, com um espírito redentor, para exorcizar todos os
demônios. As costas largas de Felipão segurariam a bronca dos abnegados a
aceitá-lo e, com o passar dos dias, acabariam por ceder.
Um jogador acima da média ele é, titular absoluto certamente seria no
Grêmio, mas há muito mais por trás de Ronaldinho Gaúcho que apenas o
meia de passes precisos e cobranças de falta certeiras. Ronaldinho, a
maior revelação da história do Grêmio, do Rio Grande do Sul e entre as
maiores do Brasil e do mundo, saiu de graça do clube, traindo-nos com um
pré-contrato com o PSG. Mas até aí tudo bem, contamos com o amadorismo
de dirigentes e uma legislação recém feita e mal estudada.
Ronaldinho teve sua primeira oportunidade de redenção com os
gremistas em dezembro de 2006, ao enfrentar o Internacional no Mundial
Interclubes. A única coisa que ele precisava fazer era jogar futebol,
orientar sua trupe catalã a vencer o adversário e, se possível, marcar
um gol e receber o eterno perdão daqueles torcedores que há muito tempo
lastimavam-se por sua saída. Mas não. Ronaldinho não jogou. Foi como se
não tivesse entrado em campo. Chorou ao fim do jogo ao ver o maior rival
levantar o título de Campeão do Mundo. Chorar não basta.
O maior dos problemas vem no ano de 2011, quando o Grêmio fez das
tripas o coração para repatriá-lo do Milan, sua derradeira chance de
receber o abraço benevolente dos gremistas. Brindando acordos verbais
com Assis e pondo as famosas caixas de som no Estádio Olímpico para
recebê-lo, o Grêmio anunciou extraoficialmente sua contratação. A
torcida matou seus rancores e abraçou a causa, a pedidos do então
técnico e eterno ídolo Renato Portaluppi. Neste momento, neste ponto o
qual Ronaldinho teve o Grêmio na palma de suas mãos e pôde enfim limpar
sua ficha e consagrar-se, ele nos deu a maior rasteira ao anunciar que
“agora sou Mengão”. Um duro golpe difícil de assimilar.
Mas não parou por aí, Ronaldinho nos enfrentou. No nosso primeiro
encontro, em uma noite no Engenhão, o nosso então goleiro Victor vacilou
ao tentar driblá-lo e com um chute cruel marcou contra o Grêmio. Ele
poderia comemorar em silêncio, mostrando um respeito envergonhado depois
de tudo que nos fez passar, mas não. Ronaldinho sorriu o sorriso mais
aberto e feliz de sua vida. Comemorou sobre o Grêmio a vitória que não
conseguiu sobre o Internacional e espatifou os corações tricolores em
mais um rompante de ira contra sua persona.
E agora, não bastasse tudo que já nos fez passar, da infinidade de
piadas que nos fez sofrer, somos expostos mais uma vez à cena patética
de contratá-lo. Dizem que ele jogaria de graça, por um salário
simbólico. Há quem creia que Assis quer que ele faça as pazes com o Rio
Grande do Sul para poderem viver tranquilamente em Porto Alegre. Mas se
depender do Grêmio e dos gremistas, ele nunca terá sua desejada paz e
nem que ele pague com todos os euros do mundo, sua dívida com o clube
será quitada; uma dívida de honra, não de dinheiro.
Em 2001, Ronaldinho foi vendido pelo Grêmio pelo preço que ele vale: nada.
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